sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Fortaleçam a justificativa de que nesse espaço, além do ambiental e biótico, sobrevive a cultura. Já existem diversos trabalhos que legitimam a necessidade de preservação; e mais: estimulam a necessidade de que se volte atenção para o lugar, adequando-se uma extrutura para que o turista possa reconhcê-lo, preservando-o de forma mais integral possível. Sim, pois de outro lado o histórico leprosário, o coqueiral (etc.) são hoje utilizados também para reprodução de outras histórias vinculadas práticas ilegais, fazendo com que o turista e o local, na maioria das vezes, o veja de longe, quisá nem o conheça em sua rota ou cotidiano. Enfim, há formas sim de mediarmos interesses em relação a esse patrimônio, nem abandonando, nem enterrando o lugar.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Cia do Chapéu realiza contação de Histórias

A Associação Artística Cia. do Chapéu iniciou suas atividades no ano de 2002, com intervenções cênico-urbanas na cidade Maceió, Alagoas. No decorrer de sua trajetória, a Cia. apresentou seus espetáculos: Apesar de Você..., Alice!?, Uma Noite em Tabariz e Graças, contendo uma pesquisa continua acerca do trabalho intenso da corporeidade do ator.
A Cia do Chapéu já possui 9 anos de existência e atuação nas artes cênicas, sendo assim referência na execução de espetáculos e eventos culturais e em estudos acadêmicos. Optando sempre por processos de cunho colaborativo, em que todos os envolvidos assumem responsabilidade sobre o todo, de forma integrada e otimizada.
Ao decorrer da Bienal do Livro, em Maceió, foi uma honra contar com a interpretação da Cia. do Chapéu da coletânea Côco de Roda, em qual se insere o livro "Pescando História à Beira-mar". Seguem abaixo algumas fotos:


domingo, 23 de outubro de 2011

Significados, sentidos e conflitos.

São constantes os conflitos provenientes do jogo de significados e sentidos atribuídos as palavras. Podemos parar e pensar em algumas situações na nossa casa, bem como no trabalho: por muitas vezes queremos falar algo e, mesmo medindo as palavras, os sentidos que as outras pessoas tomam sobre a situação lhes conduz a uma outra verdade. A exemplo disso vamos ver os desdobramentos da gratuidade no nosso cotidiano.
O que vem a ser de uma forma simples e genérica da qualidade do que é gratuito, com os sentidos atribuídos, nos deparamos com a gratuidade das pessoas de bem que dedicam seu tempo para ajudar os outros, as graças divinas que nos abençoam nas horas mais complicadas, a graça do sorriso de uma criança que se olha e fala "que graça...não é?", a graça irônica da temosia quando se fala, por exemplo, "vai fazendo graça para você ver...". Nos impressionamos ainda com a graça do palhaço e há também graça do slogan convencional das promoções "Comprando o carro, você leva de graça um chaveiro!", enfim, são muitas graças, situações e pessoas diferentes, formas de pensar e viver diferentes. Por isso até que se fala em sentidos das palavras, pois além de falarmos e pensarmos,  sentimos todas elas de uma maneira particular.
Agora, frente a essas subjetividades, se colocaria então o desafio de lidarmos com os sentidos em um mundo de heterogeneidades, ou seja, de diferenças, onde convivem a lógica de mercado que só oferta para lucrar e a espiritualidade que oferta por graça, sem esperar nada em troca. Nesse mundo, haveria de ser lapidada a ética em meio a valorização estética, haveria de se pensar a coerência entre a etiqueta e a moral.
A particularidade na maneira de se pensar não se restringe ainda a uma simples questão das diferentes interpretações das palavras, de uma mera situação peculiar ou forma de se expressar. A subjetividade da experiência do ser com o mundo constrói em si uma forma de se pensá-lo, ou seja, compõem ideologias, que envolvem o ser humano em sua trajetória (sua história de vida) e não são raras as pessoas que fazem delas uma missão, uma prática diária, seja para se valer da gratuidade para doar-se, seja para lucrar.
Longe do desafio da convivência e harmonia dessas ideologias, por muitas vezes são vividos os conflitos provenientes dessa convivência, quando institucionalizada uma relação de sobrevivência entre esses grupos. De um lado então se vêem empresas comprometidas com uma causa de vender uma boa imagem e de outro instituições que precisam dessa relação para concretizar suas ações de benefício  por graça, pelo simples ato de solidariedade. Dessa forma muitos acabam trabalhando com metas para o ser humano, resultados alcançados e pré-definidos, não para si, mas para o outro. Isso é curioso se pensar, porque ainda do outro lado se acaba relacionando a solidariedade em uma questão financeira.
Claro, é muito importante que se imagine alcançar resultados nos trabalhos sociais, para que se norteem ações, mesmo que por outro lado a subjetividade seja um território muitas vezes regido por fatores desconhecidos e até ilógicos (Freud não explica! Seria muita presunção achar que alguém sosinho pode dar conta de tudo). É muito importante também que uma empresa  pense em desenvolver uma "responsabilidade ambiental e social", mesmo que não seja para ela uma missão, mas por saber que sua matéria prima um dia pode se acabar.
Precisamos sim, da diversidade do pensamento e da ação para que cresçamos juntos, não separados, se valendo sempre, é claro: de um verdadeiro e amplo respeito.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

NOTA PÚBLICA

O Conselho Estadual dos Direitos Humanos do Estado do Espírito Santo, consternado, vem novamente a público, no seu dever ético-legal de defender intransigentemente a vida e a dignidade humana, lamentar a morte por suicídio do adolescente G.F., ocorrida no dia 11 de setembro, na Unidade de Internação Metropolitana do Xuri, em Vila Velha/ES.

Este suicídio já é segundo registrado no ano de 2011 dentro das novas unidades de cumprimento de medidas socioeducativas e se soma as diversas outras denúncias de violações, tais como rebeliões, espancamentos e fugas.

Por isso, o CEDH, naquilo que lhe outorga a Lei 5.165/95, pugna publicamente, para que além da rígida e célere apuração deste episódio, que o modelo pedagógico aplicado nas unidades seja revisado de forma a garantir o respeito pleno aos direitos humanos e a não ocorrência de tristes fatos como este.


Vitória/ES, 12 de setembro de 2011.


GILMAR FERREIRA DE OLIVEIRA
Presidente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Lançamento (em breve nas livrarias)



O livro de gênero infantil Pescando histórias à beira-mar é resultado de um projeto de pesquisa desenvolvido com comunidades litorâneas que investigou na relação entre as gerações o sentido de pertencimento em relação aos contos e lendas locais. 
Dessa forma, a obra faz um passeio por antigas lendas contadas nas vilas do litoral alagoano. Um experiente pescador ensina o ofício ao filho narrando tradicionais histórias do mar, como os Cantadores da Madrugada, a Mula de Padre e o assustador Cavalo Russo, a Pedra da Moça e a temida Tribuzana.
É por meio da narração dessas pequenas histórias que o livro vai revelando um pouco do universo das comunidades que vivem da pesca em Alagoas: suas tradições, o seu jeito de falar, a fé e religiosidade, as dificuldades, as crenças populares, as lendas que passam de pai para filho e que agora se revelam nessa obra.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Rumo às 30 horas!

Essa notícia muito nos animou hoje:
 
Foi aprovado hoje na Comissão de Assuntos Sociais do Senado o Projeto de Lei da Câmara dos Deputados (PLC) nº 150, de 2009 (PL nº 3.338, de 2008, na origem), do Deputado Felipe Bornier, que altera a Lei nº 4.119, de 27 de agosto de 1962, para dispor sobre a jornada de trabalho dos psicólogos.
 
Com isso está aprovada no Senado a jornada semanal do psicólogo em 30 horas, determinando que a eventual redução de jornada não deverá acarretar redução de sua remuneração.
Agora o PLC retornará à Câmara para para apreciação das modificações.
 
É uma grande vitória da Psicologia! Isso pode acarretar ganho de produtividade das psicólogas e psicólogos que terão possibilidade de utilizarem as horas reduzidas na jornada, muitas vezes em cursos de formação e qualificação profissional, gerando ganho da sociedade que compõe a clientela da Psicologia.
 

terça-feira, 26 de julho de 2011

A seriedade que falta no tratar do bullying

Em nossa pesquisa bibliográfica sobre o bullying encontramos um verdadeiro arsenal de artigos e textos que falam sobre o tema. Um arsenal é um depósito de armas, e a grande maioria dos escritos que encontramos nada mais são do que isso: armas destrutivas à ética no cuidar do outro.
É incrível o bullying ser um tema que permeia a realidade educacional, e que está presente atualmente na maioria dos planos de aula das escolas e os nossos mestres não se questionarem o porquê de tanta gente dizer que sabe falar sobre o tema! E mais: se os alunos são cobrados o tempo todo a serem autores de seus escritos, a referenciarem cada pesquisa, a não praticarem a cópia, por que o que encontramos sobre o tema foram nada mais do que copia+cola (ou o famoso CTRL+C e CTRL+V)?
Isso porque o que encontramos foram cartilhas, projetos, blogs, artigos e etc. que dizem a mesma coisa, mas poucos referenciam de onde aquela informação foi retirada. Realmente a internet é uma terra de ninguém, onde qualquer um, inclusive nós, escrevemos o que bem entendemos...
Bullying é coisa séria, é um transtorno de conduta que deve ser trabalhado com a mesma seriedade com a que afeta os alvos de suas agressões.
Aliás, se as pessoas tirassem o foco do bullying e as escolas investissem em cursos de mediação pacífica de conflitos e atualizações sobre como lidar com as situações emergentes nas instituições de ensino (como drogas, assédios, absenteísmos, pais negligentes que reclamam o cuidado aos filhos, etc.) para os seus professores, provavelmente seria mais eficaz do que sair por aí “vomitando” ou “atirando” o conceito de bullying, sem que haja uma compreensão aprofundada do tema, causando confusão, desgaste das equipes técnicas e dos envolvidos.
Cuidado, gente! Há muita incoerência em artigos e textos sobre o bullying, MUITA, se vocês estudarem a fundo perceberão que nem mesmo os autores de livros deixam de se confundir com o conceito. Aliás, autores esses que se dizem especialistas no tema, mas se aproveitam de pesquisas feitas por outras pessoas. Não queremos livros com base no google, queremos seriedade e menos capitalismo. Queremos que a educação seja tratada com educação.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Um esforço além... da violência

Ficamos pensando no fato de Realengo e na constante polemização da midia, desde um massacre à penaltis perdidos numa partida de futebol. Deixamos assim de discutir questões para além dos fatos. O texto abaixo é de autoria de Lucia Rabello de Castro (Professora Titular, Instituto de Psicologia, UFRJ Núcleo de Pesquisa sobre Infancia e Adolescencia Contemporaneas NIPIAC/UFRJ) e nos propõe um esforço interesante:

Um esforço além... da violência

A tragédia que se abateu sobre a Escola Tasso da Silveira no Rio de Janeiro deixa-nos a todos perplexos em busca de uma alguma compreensão possível para o horror: a execução de crianças, a violência, o ódio, o pavor, a humilhação, a crueldade. Aprisionados pela comoção da dor, nos agarramos àquilo que pode desemaranhar rapidamente o nó que nos prende ao sofrimento. Por que aconteceu? O que levou Wellington Menezes de Oliveira ao ato de loucura de matar inocentes, e tirar sua própria vida? Há um clamor para que perguntas como essas sejam respondidas de alguma forma; sobretudo porque na ausência de uma explicação continuamos agoniados, atormentados, mal podendo voltar para a vida e a seus afazeres. Como voltar para a vida, se a morte, aberrante, apareceu tão imprevisível tirando o chão debaixo dos pés?
A cada tragédia na cidade, um repertório de explicações pretendem  dar conta sumariamente da violência que nos atinge no dia a dia. No afã de identificar as causas do mal que apodrece lentamente nossa convivência na cidade as explicações dos crimes e da violência tende, frequentemente, a separar nitidamente o mal do bem. Uma das maneiras de faze-lo é, sem dúvida, dar corpo e nome à maldade, personificando-a. Desta maneira, pode-se dizer que a violência é resultado de uma mente perversa, de um ou de muitos. Por este expediente, aparentemente tão razoável, deixamos rapidamente de lado o trabalho de buscar mais profundamente, com mais demora (e também mais sofrimento!) outras compreensões sobre a violência que nos atinge.
Por isso mesmo muitos já afirmaram e muitos outros parecem crer que Wellington teria problemas mentais, ou estava obcecado, fanatizado por alguma seita. Fixar toda explicação desta tragédia apenas nas motivações mais profundas deste rapaz conduz a torna-la mais facilmente esquecível uma vez que o enigma da violência fica rapidamente equacionado. Aí, fica mais fácil voltar à rotina até que outra monstruosidade nos atropele novamente.
A dor do vizinho as vezes instrui mais do que a própria dor. Morando por um curto período de tempo na India, tenho me deparado com a violência desta sociedade que também deixa escaras profundas e perplexidade. Antes de 1947, ao longo da primeira metade do século XX, o movimento nacionalista na India lutou para se livrar do jugo britânico, que por durante dois séculos ou mais esfolou e escravizou os indianos. Foram muitas as frentes de luta, uma das mais importantes a liderada por Ghandiji quem preconizava a resistência ativa e corajosa, mas sem violência. Desde sua independência do jugo colonial em 1947 até recentemente, esse país esteve convulsionado por lutas sangrentas, genocídios, matanças cruéis e abomináveis. Parece que tudo se torna motivo para disparar a violência, desde a demolição de um lugar sagrado, como uma mesquita, até um simples jogar no outro um punhado de pó colorido, como é costume se fazer na festa hindu chamada Holi. De cada lado, se opõem facções, sejam religiosas (hindu, sikh, jain, muçulmana, e outras), mas também grupos 2 sociais de castas diversas. O ódio não segue um único divisor de águas mas corre transversalmente às religiões, castas e etnias. Gujarat, estado no norte da India, sofreu em 2002 um dos mais escabrosos surtos de violência, desta vez opondo hindus e muçulmanos. Saques, estupros, assassinatos com requintes hediondos de crueldade, e o que é pior, desta vez, com total conivência do aparato do estado, que se aliou a violência contra os muçulmanos. A violência se reitera e parece não recuar (desde 2002 vários outros surtos aconteceram) a ponto de um celebrado intelectual indiano, Dispesh Chakravarty, dizer que a vida pública na India está dominada pela violência política das massas.
No entanto, o que parece diferente aqui é o esforço imenso para sustentar a discussão desta questão sem dissolve-la numa resposta definitiva. Os episódios de violência são discutidos na mídia, na academia, pelos ativistas, e outros grupos, nos mais diversos espaços públicos, já existentes, ou criados para esse fim. Mesmo que, muitas vezes, haja uma tentativa de simplificação da questão fixando a violência nas motivações religiosas, fazendo crer que essa seria a única razão de tanto ódio, se interpõem outros esforços que resgatam a complexidade da própria questão religiosa, uma vez que ela está atravessada pela questão da pobreza, da casta e, até mesmo, das solidariedades locais. Assim, a religião não é o único elemento que pode explicar o massacre, quando, indo mais além, se constata que até o poder político – do governo, da polícia – também está imiscuído na agressão. Constata-se, também, como ocorreu em muitos episódios desencadeados por um fato religioso, que eles podem ser remetidos a injustiças sociais e opressões de longa data que acumularam decepção e revolta, e muitas vezes o aspecto religioso se torna apenas o disparador da insatisfação contida. Com tudo isso, pode-se sentir que há um investimento enorme para compreender a violência que suscita um repertório de idéias que parece não se fechar. O que é importante é que as idéias vão tendo oportunidade de circular amplamente nos vários segmentos da sociedade, e algumas delas vão tomando mais corpo, adquirindo mais plausibilidade, ensejando uma compreensão mais clarividente. Ou seja, aos poucos, lentamente, alguma luz se faz em torno da questão.
Sem dúvida, a violência toma formas e sentidos diferentes a partir das condições da história e da cultura onde ocorre, portanto, a violência no Brasil assume características bem diversas da violência na sociedade indiana. Temos que, como brasileiros, dar conta do mal que nos aflige.
A tragédia da E.M. Tasso da Silveira pode parecer um fato isolado, um ato de violência desencadeado por desequilíbrio mental de um indivíduo. Por outro lado, podemos também encadea-la com acontecimentos trágicos que vem se somando e se repetindo com alunos e professores em escolas públicas. No Rio de Janeiro as escolas públicas vem sendo alvo de inúmeras violências, que cotidianamente irrompem nas suas rotinas: balas perdidas, assaltos, ameaças de traficantes, tiroteios cruzados... Em 2010, é bom recordar, um aluno morreu na sala de aula, vítima da violência de confrontos entre polícia e traficantes perto do local da escola. É custoso imaginar como em muitas escolas ainda se consegue ensinar em contexto tão adverso. A isso se somam ainda, a situação de penúria institucional das escolas, os baixos salários, a assustadora evasão do quadro do magistério estadual. Essas condições de injustiça tem sido recorrentemente denunciadas pelos próprios professores. Frequentemente circulam cartas de professores que denunciam as agressões entre alunos, ou por parte deles, que 3 também, por sua vez, se sentem injustiçados porque faltam professores nas escolas, eles sentem dificuldades nos estudos sem ter a quem recorrer, e, frequentemente, se dão conta de que a educação que recebem está longe de prepara-los para a vida e para o trabalho. Enfim, se somam injustiças com mais e mais injustiças.
Nesta configuração de violências a quem estão submetidos alunos e professores, acumulam-se insatisfações. Parece que estamos diante de uma situação que está à beira de um abismo. Lamentavelmente, a questão da educação pública não tem atraído os debates e a discussão na proporção da gravidade da situação que assistimos, e nem da importância que este assunto deveria ter para todos nós. As notícias de acontecimentos como o da E.M. Tasso da Silveira levam apenas a algumas poucas semanas de rastreamento bombástico da personalização do crime sem desvelar o que acontece nas escolas, com seus alunos e professores, e as inúmeras injustiças e violências que vicejam entre os muros da escola. Por outro lado, dada a dificuldade de coletivizarmos nossas aflições e agruras, não parece fácil a tarefa de se criarem espaços de discussão sobre a educação pública, uma vez que, também, esse debate conta com a indiferença das elites deste país.
Neste quadro, é importante examinar como os governos tem respondido a tal situação de violência disseminada, de injustiças e de revolta nas escolas públicas. Alguns planos e propostas visam melhorar as condições de ensino mas mantem intocadas as reivindicações dos próprios professores, tais como expressas por meio de seu sindicato. Em vez disso, gratificações, bônus, recompensas financeiras são acenadas para aqueles que cumprirem metas e engrossarem as estatísticas de boa gestão escolar. As reformas, ainda que bem intencionadas, são colocadas de cima para baixo sem a discussão e participação exaustiva e paciente com os próprios atores, professores e alunos, quem, afinal, sabem melhor do que os gestores o quê lhes falta. Os salários são mantidos na faixa da indignidade e da humilhação. O que fazer na situação de tiroteios na escola? Um plano para ensinar os professores’a se defender e defender os alunos!... Além disso, constata-se a violência policial contra as manifestações públicas dos professores quando esses vão às ruas reivindicar melhores condições de trabalho.
A violência em Realengo é um fato raro, e neste sentido pode parecer isolado. No entanto, ele parece um fio solto que se desamarrou de um novelo emaranhado de violências sufocadas que brotam nas salas de aula das escolas públicas. Esta pode ser uma linha de discussão que tenhamos que enfrentar e aprofundar caso queiramos compreender melhor possíveis meandros da violência na sociedade brasileira.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Conferência Municipal de Saúde


No mês de junho foi realizada a Conferência de Saúde do município de Serra. O evento aconteceu em um Hotel no balneário de Nova Almeida, a praia mais distante não só do centro comercial, mas também da maior parte dos serviços e unidades de saúde do município.
"Apareceu" no evento o prefeito Sérgio Vidigal, que por sua vez parabenizou a iniciativa e deixou "escapulir" que, apesar de não ter sido informado sobre o acontecimento da Conferência de Saúde, exaltava iniciativas como aquela. O que mais impressiona é o fato de que o nome do prefeito do município constava na programação do evento, mas segundo a autoridade maior de Serra ele estava "coincidentemente" no hotel para outra reunião quando soube do evento. Isso nos faz pensar na ATENÇÃO dada à saúde pelas autoridades públicas: se essas autoridades "promovem" campanhas para a atenção à saúde da mulher, do idoso, das crianças, etc. que nível de seriedade encontraremos nessas campanhas se em um movimento como a Conferência Municipal de Saúde, promovida pela Prefeitura Municipal, o prefeito do município desconhece todo o processo que conduziu à execução da mesma?
Apesar dos pesares, a escolha das palestrantes foi bastante interessante, que em geral demonstraram uma postura crítica e ponderada, inclusive discutindo a questão das deliberações, se reunem vários profissionais, usuários e estudiosos nas Conferências para se pensar em propostas, que muitas vezes lá na ponta não terão deliberações de verba.
Foram muitas as propostas, dentre as mais interessantes na nossa opinião: o respeito a lei, retirando do Conselho de Saúde o Secretário de Saúde da Serra e a divulgação dos nomes dos profissionais e seus respectivos horários de trabalho em todas as Unidades de Saúde, já que alguns "profissionais" atendem quem está na fila e vai embora ou ainda nem comparecem nas Unidades. 

domingo, 5 de junho de 2011

Manifestações pela diminuição do preço da passagem

Mais uma vez, as tão conhecidas manifestações. São recorrentes, em todos os estados brasileiros, até mesmo em Curitiba. Infelizmente, o que se vê, em boa parte das manifestações, são experiências que promovem novas reinvidicações de direito, pois dos dois lados - manifestantes e estado - existem violações. Os recentes protestos em Vitória-ES tem acabado em confronto entre específicos grupos e pessoas, que jogam pedra em policiais, que dão tapas em estudantes, que ocupam espaços públicos sem negociação política e que também sem flexibilidade promovem a limpeza com as "bombas de efeito imoral". Uma categoria tão pensante, deveria dar exemplo o estudante. Mas lança a mão de um Projeto, pelo simples ato de protesto. O polícia, com seu emprego garantido, fere pelo ego ferido. Poder, de um lado e do outro, enquanto os "responsáveis" em pleno conforto.
Foto: André Rodrigues (Manifestação em Curitiba)

sábado, 28 de maio de 2011

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Notas de Repúdio

Foram muitas as notas de repúdio à tomada de território violenta em Aracruz, não foi fácil escolher, até o Forum de Mulheres do ES enrou na parada. Copiamos aqui a nota do SindPsi-ES:

NOTA DE REPÚDIO

O Sindicato dos Psicólogos do Estado do Espírito Santo (Sindpsi-ES) vem a público expressar sua indignação com a violenta e covarde ação do BME da PM contra 1.600 cidadãos indefesos do bairro Nova Esperança, município de Aracruz-ES.
Repudiamos esta ação orquestrada pelas autoridades políticas e judiciária do município de Aracruz, com a anuência do governo do estado.
Entre as vítimas da violenta repressão encontram-se mulheres, gestantes, idosos e deficientes físicos, além de 400 crianças  que tiveram seus sonhos e direitos destruídos por balas de borracha, bombas, agressões físicas, morais e psicológicas.
Não é esta a resposta que esperamos para a construção de uma cultura de paz, justiça e solidariedade, principalmente quando o ES ocupa lugar de destaque no ranking nacional da violência. 
Lamentamos, também, a miopia do poder judiciário que, zelando pela propriedade privada, também deveria zelar pelo direito a moradia, pelo direito da criança e do adolescente, da gestante, do idoso, do deficiente, etc. Ambos encontram-se em condições degradantes neste momento, desamparados nos direitos que vossas excelências deveriam proteger.
Nos solidarizamos com todos/as moradores que sofreram as violações dos direitos humanos, com os defensores de direitos humanos e profissionais agredidos que estavam na atribuição de suas funções e, principalmente, com a família da D. Zita. Não aceitamos justificativas para a morte.
Diante de tanto desrespeito, nos unimos ao coro popular exigindo a apuração e punição imediata dos responsáveis, a reparação imediata das vítimas e o respeito aos seus direitos constitucionais.

Diretoria do Sindpsi-ES

Vitória, 21 de maio de 2011

domingo, 22 de maio de 2011

Patrimônio vivo para o Break no ES



Gilmar Coelho, mais conhecido como Gilmarzinho, podemos dizer com certeza: é um dos representantes da cultura hip-hop no Espírito Santo. Dedicando por mais de uma década ao Break, Gilmarzinho faz da dança não só sua profissão, mas sua felicidade. Como bem aconselha com uma comicidade peculiar, seja para a criançada ou terceira idade, "sua vida vai mudar com o Break". Hoje Gilmarzinho prepara 60 crianças para um campeonato mirin de Break em uma Ong na Serra.

  

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Um passo para os direitos humanos.

Nesta segunda-feira (16 de maio) foi derrubado o presídio em Novo Horizonte, na Serra-ES. Alvo de críticas desde a sua fundação, passando pela sua apresentação como a inovação em segurança quando as celas metálicas foram introduzidas no sistema penitenciário capixaba, e denunciado como recanto de atrocidades para detentos e funcionários, o presídio foi, então, demolido. Como esclarece a Carta de Despedida elaborada por Padre Xavier e Marta Falqueto, são tantas as motivações fora do foco que realmente me pergunto como podemos avaliar esse passo para os Direitos Humanos. Nem para frente, nem para trás, para o lado talvez...pois no lugar do Presídio será construída a "Praça da Liberdade".
Praça e liberdade... liberdade para quem? Pois quando pensamos em praça (não só em Novo Horizonte) pensamos em sessão do direito de ir e vir, e ao invés de "Liberdade" o que encontramos nas diversas praças construídas para "beneficiar" as populações é a libertinagem.
Ok, melhor uma praça do que um Presídio, até porque destruir com certeza é mais fácil do que construir. Que a população - e os gestores públicos - ocupem esse novo espaço da maneira mais benéfica possível à comunidade, trazendo segurança, saúde, esporte e lazer, que é o que queremos de fato.  

Carta de despedida ao presídio de lata de Novo Horizonte – Serra - ES
Não foi pelo convencimento, foi pela pressão popular.
Não foi pela fé na dignidade humana, foi pelo medo do constrangimento.
Não foi pelo respeito aos direitos humanos, foi por mera preocupação com o desgaste público.
Foi só por isso que desativaram tuas celas.
Nelas foi escrita uma das piores páginas da história da desumanidade.
Como num toque de mágica perversa entraste no livro dos crimes de lesa humanidade.
As atrocidades que aconteceram entre tuas paredes de alvenaria e de lata não têm nada a invejar àquelas cometidas durante a época da escravidão e no tempo da fúria desraivada do nazifascismo.
Foste, ao mesmo tempo, aconchego de ratos e seres humanos.
Desviaste dezenas de policias civis de suas funções e violaste seus direitos submetendo-os a condições insalubres de trabalho.
Foste cruel com as mães e as esposas dos presos quando as submeteste a tratamento vexatório e constrangedor.
Com a lâmina de tuas cercas cortaste o direito das crianças abraçarem seus pais.
Violaste o sossego dos moradores do teu entorno, obrigados a conviver com o fedor do teu esgoto, com o estampido dos tiros, os gritos e o barulho ensurdecedor dos golpes desferidos nas tuas paredes de lata.
Foste uma cortina nojenta que cobriu de vergonha a história de nosso estado.
Mesmo do alto de tua arrogância não resististe à persistência e à ousadia dos militantes dos direitos humanos. Tremeste aos golpes de suas denúncias.
Ficaste tristemente famoso no mundo inteiro como uma imitação postiça de um campo de concentração nazista.
Viraste mais uma “atração turística” no itinerário da barbárie.
Deixastes feridas que sangrarão por muito tempo.
Hoje se fecha definitivamente a tua história.
Até nunca mais. Com tuas ruínas, caiam abaixo as intolerâncias, as reiteradas violações aos direitos humanos, as posturas arrogantes, os rastos de uma política de segurança pública pautada no aprisionamento e de uma política penitenciária repressora que alimenta o espírito de vingança.
Que esta terra sobre a qual a dignidade humana foi pisoteada seja devoluta ao povo da Serra.
Não das tuas ruínas, mas do suor daqueles que ainda acreditam na vida e na dignidade humana surja neste lugar a Praça da Liberdade.
Sai definitivamente de cena e deixa que um Novo Horizonte carregado de esperança brilhe na vida deste povo sofrido que aqui decidiu erguer sua casa e viver honestamente.
 
Dedicado a todos aqueles que participaram com afinco nesta luta.
 
Padre Saverio Paolillo (Pe. Xavier)
Pastoral do Menor da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo
Marta Falqueto
CDDH - Serra

sábado, 14 de maio de 2011

Medida sócio-educativa?

Para discutir sobre as diversas formas de ser/estar e conduzir o comportamento humano pensamos em um assunto mais que urgente a se discutir no Espírito Santo: o sistema prisional.

É sabido que são urgentes as mudanças requeridas pelos profissionais que nele atuam e famosas as denúncias de maus tratos e descasos nesse/desse sistema, em especial no estado do Espírito Santo. As denúncias, que já chegam a instituições como a Organização dos Estados Americanos (OEA), parecem não ser suficientes para demandar uma mudança efetiva, mesmo talvez tendo a abertura de concursos públicos[1] despertado o ímpeto daqueles que querem contribuir para a qualificação dos serviços prestados pelas instituições nas quais são privados de liberdades aqueles que infringem as leis.

Infelizmente, não há uma coerência no discurso das instituições “penitenciárias”, dos funcionários das mesmas, dos “usuários” e daqueles que de alguma forma se inserem nesse contexto. Jornais de grande veiculação no Estado diariamente expõem matérias sobre os maus tratos por parte de policiais e agentes penitenciários e/ou socioeducativos (vide http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2010/03/610380-estado+admite+mazelas++mas+contesta+mortes+no+sistema+prisional.html) .

Enquanto isso o Instituto de Atendimento “Socioeducativo” doEspírito Santo (IASES), ofereceu para os aprovados para a primeira etapa de seu concurso público um Curso de Formação com apostilas depreciáveis, copiadas de Blogs sem referência técnica alguma, nas quais continham informações de que:
- “o desenvolvimento que ocorre na adolescência produz-se de forma ordenada, tal como acontece na infância;
- quase todos os adolescentes se rebelam perante as exigências e proibições da família, se mostram ansiosos e indecisos, perturbados e com falta de segurança em si;
- tem tendência para a agressividade;
- é extremista, porque se sente incapaz de demonstrar que é eficiente”.
Os trechos acima foram retirados do Módulo II – Comportamental, das apostilas do curso de (DE) formação do concurso.
O resultado? Tirem suas próprias conclusões através do exposto no site de relacionamentos Orkut, na comunidade intitulada Concurso Iases, no fórum denominado de “Real x imaginário” (que, por sinal, fora apagado recentemente). Seguem trechos do fórum:

-  "ANTES DE TUDO NA UNIS TEM TAMBEM HOMENS DE 21 ANOS: SO QUEM TRABALHA LA PRA SABER SE ESA RESOCIALIZAÇAO BONITA QE ELES POEM NO SITE REALMENTE FUNCIONA: QEM E ESPANCADO NA UNIS LEVA MARMITA DE FEZES, PEDRADA, XUXADA COM VERGALHAO, TOMA BARRADA DE FERRO NA CARA, colchao de fogo, AMEAÇA DE TODO TIPO, E AINDA RESPONDE PROCESO POR FUGA E AINDA E EXONERADO POR ISO E O AGENTE DT E NAO OS ADOLESCENTES. EDUCAÇAO, DISCIPLINA,NORMAS DE SEGURANÇA, PROTEÇAO AO SERVIDOR GENTE NAO SIGINFICa pegar o cara e bater. tem muitas formas de procedimento pra iso. ENTAO NAO VAMOS DEXAR AQUELAS AULAS DE PSICOLOGIA E FILMES QWE ACONTECERAM COM CASOS ISOLADOS LUDIBRIAR A GENTE NAO OK. SE PREPARA PRA GUERRA QWE TAMOS INDO PRA UMA !!!"
-  "galera quem foi dt la sabe que e verdade mas talves agente pode tentar mudar isso, mas como o companheiro falou vamos nos prepara para guerra"

- "Galera nós sabemos quem nós vamos encarar. E bandido, vagabundo cheirador Pessoas que não tão valor nem para seus próprios progenitores Então porque tem tanta gente achando que eles vão nós tratar bem?????? Ta mole, fica de joguinho besta, fecha os olhos para ver se a bala de aço não come solto. Se vier para cima de mim, vou largar o aço sou mais minha vida do a vida desses putos"

- "Ressocialização pra mim e o caralho. Pergunta se eles querem mudar de vida. Então alguem vai forçar eles a mudarem de vida. Eles são do mal, só quem da jeito neles e JESUS."

- "tem q ficar ligado mesmo, o lance é trabalhar corretamente, mas se o bicho pegar prevalece o velho ditado : '' Antes ele do que Eu '' "
- "Inacreditável... Meu Deus, eu não acredito nisso!"

- "tem que se proteger e fica ligado."
"Inacreditável II Nem eu tô acreditando no que li acima!!! 

Também queríamos não acreditar...